Não sou muito de camiseta branca. Quando consegui comprar umas novas, juntei umas velhas numa sacola, todas brancas, e levei para uns moradores de rua, perto de onde trabalho.
- Meu, tá afim de uma camiseta? - eu disse.
- Claro.
- Escolhe uma, dessa sacola aí.
- Mas só tem branca?
Fiz um sinal de sim, meio constrangido. Então, ele enfiou a mão na sacola e pegou qualquer uma. O cara tinha o mesmo gosto que eu. Mas não tinha escolha.
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014
sábado, 15 de fevereiro de 2014
Literatura Não É Informe Comercial
Não sei se isso já se tornou uma prática habitual, mas a sensação que tive ao ler a crônica do Fabrício Carpinejar publicada como Informe Comercial, na edição do jornal Zero Hora, do dia 14 de fevereiro de 2014, deve ter sido a mesma que um músico do século passado teve ao ouvir, pela primeira vez, uma música servindo de jingle para uma marca qualquer. Na minha cabeça, Literatura não é propaganda. Tanto é que, ao folhear a página estranhei o layout e o formato do texto. Minha ficha só caiu quando vi, no alto da página, em letras menores, o alerta que aquilo era um “Informe Comercial”. A assinatura do Carpinejar, assim como sua foto, vinculada ao texto em um jornal onde ele tem coluna, dão um ar de armadilha a peça publicitária. Fato que só piora as coisas.
Falando do autor. Posso dizer que acompanhei o começo da carreira dele, quando se dedicava a poesia e não tinha um grande reconhecimento nem visibilidade. Apontava como uma promessa literária. Uma vez, inclusive, tomei um café com ele na Unisinos. Foi um bate-papo muito bom, muito agradável. Mas isso, como disse, foi antes. Para quem é do Sul, é notório que, em certo momento de sua carreira, não sei especificar qual, Carpinejar se popularizou, se midiatizou. E não há problema algum nisso. Porém, um dos resultados é essa crônica-informe-comercial (novo gênero literário?), que segundo deduzo, está servindo de subsídio para vender terrenos em condomínios fechados na praia. Deduzo, porque a propaganda não é explícita, apenas diz, insisto, “Informe Comercial”. Contudo, dois versos do texto, com densa carga poética, são bem diretos. “Os melhores amigos são feitos na praia. Nos condomínios da praia”. Nas páginas seguintes a crônica, são apresentados diversos anúncios de página inteira de uma construtora de condomínios fechados no litoral rio-grandense. Touché!
Pra quem achava que Auto-Ajuda seria o modo mais fácil de fazer dinheiro na Literatura, pode estar enganado. O gênero Informe-Comercial também é promissor.
Bom, não julgo a intenção do autor. Tampouco a qualidade do texto. A obra é dele. Meu comentário é relativo ao baque que foi assistir a Literatura criada especificamente para uma peça publicitária. Com objetivo claro de vender, servindo como um mero outdoor de um condomínio fechado na praia. Confesso que nunca tinha visto nada parecido, por isso o estranhamento. Lógico que, como escritor e profissional de comunicação, entendo que a Literatura também é um produto. Os livros, por exemplo, são produtos de uma editora (com exceção dos independentes, óbvio). Muitos filmes são produtos de livros. E por aí vai. Entretanto, basicamente, também são produtos artísticos.
Tudo bem, posso aceitar a sentença de que tudo não passa de um romantismo bobo meu. Mas entendo que a Literatura é uma expressão artística, acima de qualquer coisa, e escrever é (e sempre será?) uma ideologia, uma sina. Sou radical em relação a isso. E não há condomínio fechado nesse mundo que vai me fazer mudar de ideia!
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
Um Autor Que Você Precisa Conhecer: Diego Moraes
Admiro os textos do Diego Moraes. Quando falo que na Literatura tem muita gente boa a ser descoberta, ele é um exemplo (se é que você já não o descobriu). Moraes é de Manaus e tem dois livros pela mesma editora que eu, a Bartlebee. Há um terceiro a caminho. Ele tá sempre antenado no que tá acontecendo e manda umas pedradas de encher os olhos. Seus textos são publicados, em sua maioria, no Facebook ou em seu blog.
Separei dois exemplos:
03: 23 da manhã – tentei pregar os olhos, mas não deu. Levantei da minha rede de pescador, liguei o meu computador Microsoft Windows XP e escrevi “Estou ficando velho demais para ser chamado de escritor. Às vezes penso que literatura é coisa de adolescente. Seria bom abandonar essa merda e ser alguém na vida. Campos de Carvalho foi tomar sorvete eternamente e Raduan Nassar foi cuidar de fazendas. Não sou fã do Raduan, prefiro o caipira do Salinger, mas acho que está na hora de abandonar esse delírio egocêntrico e montar uma franquia de carrinho de cachorro-quente. Acredito na sorte. Talvez um dia apareça sorridente dando entrevista para o programa ‘Pequenas Empresas & Grandes Negócios’ e inspire centenas de fodidos a sair da falência”.
Arrumar alguém antes que a solidão vença o Jaspion
A solidão é mais feia que o Guiodai
Arrumar alguém antes que Jesus volte e divida o mundo entre puros e impuros
Arrumar alguém antes de ganhar 30 mil reais do Jabuti e morrer de overdose cercado de putas no hotel Bahamas
Arrumar alguém antes que um covarde encontre minha formula matadora e dolorosa de fazer literatura
Arrumar alguém antes que um psicopata bote “boa noite cinderela” no meu copo de cerveja num barzinho da zona leste
Arrumar alguém antes que um cientista invente um vírus mais cruel que o HIV
Arrumar alguém enquanto posso gozar três vezes ao dia sem Viagra
Arrumar alguém antes da depressão arrasar com tudo
Arrumar alguém antes de virar assexuado, vegetariano e xarope como o Morrisey
Arrumar alguém antes que acabe as promoções da Gol Linhas Aéreas para fortaleza
Arrumar alguém antes que a geladeira pife e esquente a única caixinha de Itaipava na sexta-feira
Arrumar alguém que fale inglês e separe os falsos cognatos do The New York Times
Arrumar alguém para comer o cu todos os dias
Arrumar alguém para declamar Manoel Bandeira enquanto procuro a bombinha que alivia a minha asma
Arrumar alguém que arrume a minha agenda e cuide do meu fã clube
Arrumar alguém para vida inteira
Arrumar alguém para sossegar e morrer em paz.
_______
Mais sobre o Diego Moraes no blog Urso Congelado.
Também tem essa matéria sobre ele: A Literatura Me Salvou, publicada na Obvius
Separei dois exemplos:
03: 23 da manhã – tentei pregar os olhos, mas não deu. Levantei da minha rede de pescador, liguei o meu computador Microsoft Windows XP e escrevi “Estou ficando velho demais para ser chamado de escritor. Às vezes penso que literatura é coisa de adolescente. Seria bom abandonar essa merda e ser alguém na vida. Campos de Carvalho foi tomar sorvete eternamente e Raduan Nassar foi cuidar de fazendas. Não sou fã do Raduan, prefiro o caipira do Salinger, mas acho que está na hora de abandonar esse delírio egocêntrico e montar uma franquia de carrinho de cachorro-quente. Acredito na sorte. Talvez um dia apareça sorridente dando entrevista para o programa ‘Pequenas Empresas & Grandes Negócios’ e inspire centenas de fodidos a sair da falência”.
Arrumar alguém antes que a solidão vença o Jaspion
A solidão é mais feia que o Guiodai
Arrumar alguém antes que Jesus volte e divida o mundo entre puros e impuros
Arrumar alguém antes de ganhar 30 mil reais do Jabuti e morrer de overdose cercado de putas no hotel Bahamas
Arrumar alguém antes que um covarde encontre minha formula matadora e dolorosa de fazer literatura
Arrumar alguém antes que um psicopata bote “boa noite cinderela” no meu copo de cerveja num barzinho da zona leste
Arrumar alguém antes que um cientista invente um vírus mais cruel que o HIV
Arrumar alguém enquanto posso gozar três vezes ao dia sem Viagra
Arrumar alguém antes da depressão arrasar com tudo
Arrumar alguém antes de virar assexuado, vegetariano e xarope como o Morrisey
Arrumar alguém antes que acabe as promoções da Gol Linhas Aéreas para fortaleza
Arrumar alguém antes que a geladeira pife e esquente a única caixinha de Itaipava na sexta-feira
Arrumar alguém que fale inglês e separe os falsos cognatos do The New York Times
Arrumar alguém para comer o cu todos os dias
Arrumar alguém para declamar Manoel Bandeira enquanto procuro a bombinha que alivia a minha asma
Arrumar alguém que arrume a minha agenda e cuide do meu fã clube
Arrumar alguém para vida inteira
Arrumar alguém para sossegar e morrer em paz.
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Mais sobre o Diego Moraes no blog Urso Congelado.
Também tem essa matéria sobre ele: A Literatura Me Salvou, publicada na Obvius
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014
Caiçara Confidencial
Os insones, trabalhadores noturnos e românticos inveterados aqui do Sul conhecem o programa Caiçara Confidencial, da rádio Caiçara AM. Só música antiga e microfone aberto para os ouvintes pedirem canções.
E só rola dor-de-cotovelo, obviamente. Porque a vida não é um comercial de manteiga, muito menos um álbum de fotos do Facebook.
Quem apresenta é o Leandro Maia, voz grave e macia, aquela clássica dos antigos locutores. O som instrumental que faz a "cortina" para o programa é essa belezura aí, Tomorrow's Love, de Hugo Montenegro.
___________________
Mais sobre a Caiçara AM >>> http://www.pampa.com.br/caicara/
E só rola dor-de-cotovelo, obviamente. Porque a vida não é um comercial de manteiga, muito menos um álbum de fotos do Facebook.
Quem apresenta é o Leandro Maia, voz grave e macia, aquela clássica dos antigos locutores. O som instrumental que faz a "cortina" para o programa é essa belezura aí, Tomorrow's Love, de Hugo Montenegro.
Mais sobre a Caiçara AM >>> http://www.pampa.com.br/caicara/
terça-feira, 11 de fevereiro de 2014
Minha Entrevista no Programa Tons e Letras, da FM Cultura (08/02)
Pra quem não conseguiu ouvir no dia, a FM Cultura disponibilizou o áudio do Tons e Letras que fui entrevistado. No programa, falei sobre meu romance de estreia, Virose, e um pouquinho sobre mim. A entrevista começa aos 36 minutos. Mas vale conferir tudo, tem dicas de leitura e rola um som instrumental muito bacana.
Quem apresenta é o grande escritor e jornalista Luis Dill (com mais de 40 livros publicados!), que descobriu meu livro e achou bacana.
Para quem não é de Porto Alegre, dá para ouvir o programa pelo site http://www.fmcultura.com.br/?model=conteudo&menu=189
___________
E pra quem quiser saber mais sobre meu livro: http://lsbarroso.blogspot.com.br/p/livros-publicados.html
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
Virose e Eu, no Tons e Letras da FM Cultura
Quem apresenta é o grande escritor e jornalista Luis Dill (com mais de 40 livros publicados!), que descobriu meu livro e achou bacana.
Para quem não é de Porto Alegre, dá para ouvir pelo site http://www.fmcultura.com.br/?model=conteudo&menu=189
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E pra quem quiser saber mais sobre meu livro: http://lsbarroso.blogspot.com.br/p/livros-publicados.html
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014
Constatação Tardia
Todos meus julgamentos. Meus tribunais
diários. Invejas veladas. Ânsias contidas. Jorros internos. Atiro tudo nos
braços da Literatura. Como se vomitasse em uma sarjeta. Meus restos, ali,
acolhidos pela rua da amargura. É um puta disfarce. É uma maneira tresloucada
de se esconder. Mais uma fuga, a Literatura.
Diários ridículos. Epístolas jogadas ao
mar, em garrafas que chegarão a lugar nenhum. Acúmulo de pó e de solidão.
Rascunhos fantasiados de arte acabada. Um faz de conta copiado de uma quinta
geração. De uma geração que nunca teve nada a dizer. De uma geração corrupta e
falsamente asséptica. Produto dos dias jogados pelo ralo. Versos artesanalmente
industriais. Urros desconexos, fingindo santidade. Números de loteria que
jamais serão sorteados. E eu bem sei. Mas me convém escancarar esse desespero. Tentar
a sorte a grande. Admirar essas bobagens como se fossem bênçãos. Como se iluminassem
o céu cinzento.
Escrever é só um dos
modos mais bestas que inventaram de matar o tempo.
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