Desde que o mundo é mundo, o ser humano tem a pretensão de domar a Natureza. Veja o trágico caso do Rio Grande do Sul. Uma enchente histórica destruiu uma boa parte do seu território, em maio de 2024, ocasionando dezenas de mortes e desaparecimentos. Empreendimentos, moradias e sonhos destruídos. Mais de 470 municípios afetados direta ou indiretamente pela força das águas. Não há consolo possível para a população.
Conforme o estudo "As enchentes no Rio Grande do Sul: lições, desafios e caminhos para um futuro resiliente", publicado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), o desastre foi causado pela maior chuva já observada no país.
O recado da Natureza não pode ter sido mais claro. Aquele espaço é seu, das suas águas. Pouco importa o debate dos pequenos homens, que buscam culpados pela catástrofe. A Natureza segue seu fluxo.
A enchente escancarou essa tragédia humana, que é em tentar domesticar o que não pode ser domesticado. Como o caso da ponte que foi levada pela correnteza no limite das cidades de Marques de Souza e Travesseiro, em 2024. Bastou um breve período de calmaria e os homens foram lá e ergueram uma nova, no mesmo lugar. Por necessidade e até de forma instintiva. O que fez a Natureza? Voltou a derrubá-la no ano seguinte.
No RS, governantes e sociedade civil lutam para ludibriar a Natureza, reconstruindo infraestruturas mais resilientes, projetando sistemas para conter quem de fato é a dona das terras gaúchas. Desenham grandes obras de engenharia: muralhas, diques, casas de bombas. Planejam uma revolução. Essa cruzada tem só um objetivo: não ceder ou se dobrar aos caprichos da Natureza.
A fé dos homens é comovente. Porém, é digna de um Sísifo, que na mitologia grega foi condenado pelos deuses a empurrar eternamente uma pedra até o topo de uma colina, apenas para vê-la rolar de volta. Falando em devoção. Um padre de Porto Alegre – que deveria ser um homem dedicado à Natureza – afirmou, em entrevista a uma rádio, que jamais sairá da Ilha da Pintada, bairro aguadiço de Porto Alegre. Para ele é indiferente o número de alagamentos ou desastres que aconteceram – como a enchente de 1941 – e ainda possam vir a ocorrer. No microfone da imprensa, o pároco não clamou aos céus por um milagre e, sim, bradou e rogou por uma solução terrena, sendo que ela está já posta.
Respeitar a Natureza, simplesmente.
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