A máquina de lavar aqui de casa resiste há quase quarenta anos. Não desiste de trabalhar. Lavou roupas de quatro gerações. Avós, pais, filhos e, agora, os netos. Os avós não existem mais e se existissem seriam bisavós. Todas as modas e costumes do vestuário nacional – que vem e vão –passaram por essa Brastemp branca. Um sem número de consertos foram realizados nela. E pelo mesmo técnico: o senhor Baltazar. Um velho seco, bronzeado, rígido, de fala mansa e sorriso tímido.
- E agora, vale a pena consertar essa geringonça, seu Baltazar?
- Vale, sim. Isso é coisa que não se faz mais. Muito melhor que as máquinas de lavar atuais.
E assim vamos indo. Dessa vez, a máquina não se entregou por muito pouco. O problema foi no cesto. E outro cesto para repor seria muito difícil de achar. A cada lavagem pequenos pedaços de plásticos se esfarelavam junto as roupas. Porém, como sempre, teve conserto.
- Eu acho que essa máquina ainda vai lavar as roupas de meus netos, seu Baltazar – comentei com ele, enquanto o velho reinstalava tudo pela enésima vez.
- É bem possível.
- E acho que vai ser o senhor que vai consertá-la.
Ele sorriu.
- Acho que já vou ter ido me embora. Pra tudo tem conserto, né? Menos pra morte.
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