É incrível! Um homem improvisou uma barbearia dentro do mercado de hortifruti do Terminal Parobé.
Quem desviou o rosto por causa do ventinho chato do Guaíba, que trazia toda a fumaça do churrasquinho de gato nas pessoas que esperavam os ônibus na rua ao lado da estação, pode ver com clareza.
O barbeiro revezava com uma máquina e uma tesoura. Ágil. Borrifava água. O cliente com avental e tudo. Sentado em uma caixa de frutas de madeira.
Era quase noite.
As boates Adega's e Encontrus estavam abertas. Os leões-de-chacará na entrada com suas caras fechadas, esperavam a chegada dos primeiros solitários. Quando, do nada, surge um tipo.
- Ô, amigo! Desculpa incomodar. Mas é que vim de Montenegro. Dormi anteontem no albergue e hoje na rua..
- Cara, não tenho dinheiro - me adiantei.
- Nem 10 centavos?
- Nada mesmo.
- É que é pra cachaça. Não precisa ser muito.
Também do nada, cruza por nós um gaiato portando uma cachaça barrigudinha. Vestia uma jaqueta anos 90 de um time de futebol americano. O montenegrino me deixou sem se despedir. Seguiu o outro. Em poucos metros, os dois estavam lado a lado. Dividiam a garrafa de plástico e caminhavam pela avenida Julio de Castilhos. Provavelmente, se tornariam amigos. Afinal, ninguém faz amizade bebendo leite.
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