Uma noite daquelas. Fria. Internacional consegue a façanha
de empatar em casa. Jogo murrinha. Não deu pra ver. Só pagando mais na
televisão que já é paga. O velho radinho de guerra. Chega dar angústia na
gente. Vai! Vai! E o time não vai... O guri apagou no sofá. Dormiu todo
enviesado. Ferveu o dia todo e se entregou vendo desenho. Desliguei a TV.
Ajeitei a areia dos gatos. Preenchi o pote de ração. Nem sinal dos bichos. Entocados.
Frio. A mulher zanzando. Ajeita uma coisa no roupeiro. Recolhe um brinquedo do
chão. Fala sozinha. No céu uma Lua. Dessas que só aparecem de tantos e tantos
anos. Se eu vi? Mal vi. Não tava no meu dinheiro. Dei uma espiada e foi só. Humor
ruim. Azedo. Nunca mais a tal Lua, dizem. A tal que se foda, vou te dizer. Puxei
um João Antônio da estante. Zicartola e que tudo mais vá para o inferno! Assim
mesmo. Esse é o título. Cabra que sabe dar nome pra livro! Lá pelas tantas, ele
diz. “Essa coisada emotiva braba tem me batido mais aos domingos, se acordo
pela manhã e me ponho preguinçando, fazendo hora sei lá pra quê, adiando sem
propósito a ida à praia, um aborrecimento sem motivo aparente, quem sabe. Pra depois
virar aborrecimento mesmo. Uma perda. Um homem não consegue se perdoar por
deixar de ver o vôo das gaivotas. E por aí vai”. Continho de 1986. Tempos idos.
Onde um homem tinha seu momento pra preguiçar. Não tinha aparelho apitando. Tela.
Rola e rola tela. Letra miúda. Força as vistas. Fotos e mais fotos. E quantas
fotos horríveis da tal Lua, meu Deus do céu! Peguei o guri. Acordou. “Coloca o
desenho da caveira, papai”. “Xuuuu... Pronto, pronto... Vamos dormir, cara. É de
noite”. Ele, então, se aninhou. Eu me acalmei. Coloquei o pequeno na cama. Cobri
com uma manta. Coloquei uma segunda pra garantir. E saí pra ver a Lua outra
vez.
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