quarta-feira, 26 de maio de 2021

26 de maio

 

Uma noite daquelas. Fria. Internacional consegue a façanha de empatar em casa. Jogo murrinha. Não deu pra ver. Só pagando mais na televisão que já é paga. O velho radinho de guerra. Chega dar angústia na gente. Vai! Vai! E o time não vai... O guri apagou no sofá. Dormiu todo enviesado. Ferveu o dia todo e se entregou vendo desenho. Desliguei a TV. Ajeitei a areia dos gatos. Preenchi o pote de ração. Nem sinal dos bichos. Entocados. Frio. A mulher zanzando. Ajeita uma coisa no roupeiro. Recolhe um brinquedo do chão. Fala sozinha. No céu uma Lua. Dessas que só aparecem de tantos e tantos anos. Se eu vi? Mal vi. Não tava no meu dinheiro. Dei uma espiada e foi só. Humor ruim. Azedo. Nunca mais a tal Lua, dizem. A tal que se foda, vou te dizer. Puxei um João Antônio da estante. Zicartola e que tudo mais vá para o inferno! Assim mesmo. Esse é o título. Cabra que sabe dar nome pra livro! Lá pelas tantas, ele diz. “Essa coisada emotiva braba tem me batido mais aos domingos, se acordo pela manhã e me ponho preguinçando, fazendo hora sei lá pra quê, adiando sem propósito a ida à praia, um aborrecimento sem motivo aparente, quem sabe. Pra depois virar aborrecimento mesmo. Uma perda. Um homem não consegue se perdoar por deixar de ver o vôo das gaivotas. E por aí vai”. Continho de 1986. Tempos idos. Onde um homem tinha seu momento pra preguiçar. Não tinha aparelho apitando. Tela. Rola e rola tela. Letra miúda. Força as vistas. Fotos e mais fotos. E quantas fotos horríveis da tal Lua, meu Deus do céu! Peguei o guri. Acordou. “Coloca o desenho da caveira, papai”. “Xuuuu... Pronto, pronto... Vamos dormir, cara. É de noite”. Ele, então, se aninhou. Eu me acalmei. Coloquei o pequeno na cama. Cobri com uma manta. Coloquei uma segunda pra garantir. E saí pra ver a Lua outra vez.


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