O nome dele era Augusto. Uma magnífica pessoa. Era professor no 2º grau. Escola Estadual José Cândido de Godói. Educação Artística ele lecionava.
Ensinava Cinema. Veja só. Apresentava em sala de aula, em fitas VHS e num televisor ínfimo, O Encouraço Potemkin, Gabinete do Doutor Caligari, Chaplin... Dava para todos alunos uma lista de filmes fundamentais para entender a sétima arte.
E quem se importava? Ninguém. Éramos um bando de animaizinhos selvagens. Só queríamos falar "presente" e sair. Ele achava uma graça danada da gente. "Quer jogar bola? Vai jogar bola, então. Tchau!".
Um dia, diante do baixo quorum, cedeu. "Tá bom! Escolham um filme". A turma se eriçou. "Até que enfim vamos ver algo que preste!".
Eu sei o que vocês fizeram no verão passado.
Lançamento. "O senhor consegue alugar esse? Olha, que recém saiu, hein!". "Eu dou um jeito".
E deu. Colocou a fita. Aula lotada. Concentração total. 45 minutos depois de iniciar o filme, ouvimos um barulho estranho.
Era o professor Augusto. Sentado no fundão. A cabeça pendia pra trás. Dormia.
E roncava. Que figura!