sexta-feira, 25 de novembro de 2016

A Hora e a Vez dos Clássicos: Estrela Solitária, Um Brasileiro Chamado Garrincha – Ruy Castro


Autor de Chega de Saudade, O Anjo Pornográfico, entre outros

ESTRELA SOLITÁRIA, UM BRASILEIRO CHAMADO GARRINCHA 
Ruy Castro

1953 Os Fluídos Vitais

Em março de 1950, o Bangu comprara Zizinho ao Flamengo por 600 mil cruzeiros, equivalente na época a 33 mil dólares. Hoje parece pouco, mas fora a maior transação do futebol brasileiro até então. E não era pouco. Com aquele dinheiro, comprava um apartamento de dois salões e cinco quartos no Rio, com varandas debruçadas sobre o oceano Atlântico.

Em junho de 1953, para ter Garrincha, o Botafogo pagou ao Serrano de Petrópolis, dono de seu passe, quinhentos cruzeiros, equivalente na época a 27 dólares. Foi a menor transação do futebol mundial em todos os tempos para um jogador da sua categoria. E não parecia pouco – era pouco. Com esse dinheiro, comprava-se, quando muito, uma bicicleta.

É verdade que, em 1953, o profissionalismo no futebol brasileiro tinha apenas vinte anos de oficializado e ainda esperava que os jogadores conservassem um espírito “amadorista”. Os símbolos do passado continuavam presentes nos jogadores que ainda jogavam de casquete e de rede no cabelo, mesmo que o vento não lhes desbastasse a gaforinha. E, no próprio, Botafogo, houvera até bem pouco tempo, antes um goleiro que pagava para jogar: o milionário Ermelindo Matarazzo. Era filho do conde Matarazzo e um dos mais ricos herdeiros brasileiros, mas, na condição de reserva, sonhava no dia em que substituiria Oswaldo Baliza, o goleiro titular.

Ermelindo era franco com Baliza:
“Meu sonho é ser você”.
E Baliza, ainda mais franco:
“Pois o meu era ser filho do seu pai”.

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