quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Pensar Duas Vezes


Diz a máxima que um diplomata é um sujeito que pensa duas vezes antes de dizer nada. Foi exatamente o que não fez Lula quando, durante um compromisso na Etiópia, resolveu dar um sermão em Israel, alegando que as ações israelenses na Faixa de Gaza são comparadas ao holocausto perpetrado por Hitler contra o povo judeu. Lula disse assim. “O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”. 

Até então nenhum líder mundial tinha tido a ideia de usar o holocausto como sinônimo de nada relativo à guerra entre Israel e Hamas. Ainda mais contra os próprios judeus – estima-se que foram mais de seis milhões de mortos por Hitler. Uma comparação agressiva e desnecessária, ainda mais para quem preside o G20 – grupo que reúne as maiores economias do mundo – e lidera um país que está há milhares de quilômetros do conflito.  

Outro ponto que deixa o cenário mais absurdo é que Lula, ao vencer a última eleição presidencial, jurou que mudaria a imagem do Brasil no exterior, após o desastre que foi Bolsonaro nesse quesito. Inclusive, o slogan do atual governo é união e reconstrução. Indicativos que, no caso de Israel x Hamas, reforçar a importância de um cessar fogo, sem acusações a nenhum lado, seria um bom caminho retórico. 

Mas Lula sabe, sim, usar a diplomacia. No mesmo compromisso citado, o presidente brasileiro foi questionado sobre mais dois casos internacionais relevantes. Um deles foi a expulsão de agentes do escritório de Direitos Humanos da ONU na Venezuela, país vizinho. Outro tema foi a morte misteriosa de mais um opositor ao governo russo, de Vladimir Putin. Para ambos, Lula não tinha informações, sinônimos, adjetivos ou comparações.  

Ou seja, pensou duas vezes.