As relações de amizades andam estremecidas por causa da política. Com a popularização das redes sociais, as pessoas acabam sabendo, meio que na marra, o que os conhecidos pensam em relação ao assunto. A trinca que antes era quase sagrada, da política, futebol e religião, hoje está exposta e banalizada. Ninguém tem mais receio de falar e criticar a posição do outro. Virtualmente, os temas são debatidos e discutidos à exaustão.
E daí é liberdade de expressão pra cá, boicote pra lá. Amizades que findam, cancelamentos que surgem, silenciamentos e até linchamentos... A impressão é que as pessoas são o que são e ponto. Estão marcadas a serem de direita, de esquerda ou qualquer outro carimbo que exista por aí.
Trago o exemplo de um amigo conservador. Por ter essa posição, ele se identifica com Jair Bolsonaro. Luta diuturnamente, em muitas frentes e batalhas campais nas redes sociais, pela permanência do atual presidente por mais um mandato. Contudo, esse meu conhecido não é um fanático.
Explico. Ele se vacinou contra a Covid-19. Está indignado com os rumos da economia nacional, com a inflação e o preço das coisas (gasolina, gás, itens da cesta básica). Ele também não tolerou o acordo com o Centrão. E tampouco atura as estripulias dos filhos 01, 02, 03 e 04.
Só que tem um detalhe. Esse meu amigo conservador não suporta o tal de todes. Ele odeia com todas as suas forças essa coisa de pronome neutro, sem gênero. Protesta. Bate-boca. Ofende. Se o tal todes virar regra da Língua Portuguesa, ele, bem provável, pegará em armas.
Pouco importa para ele se a gasolina está custando mais de R$ 7 reais o litro, o gás R$ 120 o botijão e R$ 50 o quilo da carne. Esses fatos ainda não são dignos de fazê-lo mudar de ideia em relação ao presidente. O que ele não tolera mesmo é o tal de todes.
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Artigo publicado no jornal Diário de Canoas, no dia 8 de dezembro de 2021.