Eram sete da noite, mas o sol ainda estava alto e forte. Foi andando devagar, chegou em frente ao hotel Deauville e descansou um pouco sentado no muro. Havia pouca gente. De noite, esse lugar ficava cheio de putas e malandros, travestis, maconheiros, gente do interior que não sacava nada. Punheteiros, vendedoras de amendoim, cafetões com rum e tabaco falsificado e cocaína verdadeira, putinhas recém-importadas do interior, músicos de rua com violões e maracas, vendedores de flores, triciclos com seus taxistas multiofício, policiais, aspirantes e emigrantes. E algumas mulheres infelizes, algumas velhas, alguns meninos, os mais pobres entre os pobres, que se dedicam a pedir moedas incansavelmente. Quando um turista incauto e melancólico aterrissa no meio dessa fauna não agressiva, mas engraçada e convincente, geralmente cai fascinado na armadilha. Acaba comprando rum ou tabaco de merda, achando que é original e que está sendo muito esperto e que está tendo muita sorte. Às vezes, meses depois, acaba casando com uma dessas esplêndidas mocinhas ou se junta com um garoto pintudo. Depois dessas proezas, o turista garante aos amigos que agora é feliz, que a vida nos trópicos é maravilhosa e que gostaria de investir aqui seu dinheiro e ter uma casinha à beira-mar, com sua negrinha complacente e atraente, abandonando o frio e a neve, para não ver mais as pessoas educadas, cuidadosas, calculistas e silenciosas do seu país. Enfim, cai num transe hipinótico e sai da realidade.
Trecho de O Rei de Havana (1999). Romance de Pedro Juan Gutierrez.