É tudo muito triste.
20h30. Hospital Conceição, Zona Norte de Porto Alegre. Hora da visita. Pacientes empilhados em um corredor. Eram quantos? 20? Ninguém sabe ao certo. Internados em bancos, cadeiras de rodas, macas. Uma senhora pequena ocupa três assentos, está deitada de lado. Veste a roupa azul do hospital. Sofre calada. Caminhar é difícil. A passagem é bloqueada constantemente por um corpo enfermo. É necessário desviar com cuidado para não derrubar o soro de alguém. Familiares de cócoras, outros em pé. Falam sem parar. 30 minutos é pouco para colocar a conversa em dia. Para animar. Para esquecer a dor. Para falar com o médico. Para explicar o problema.
Na ala amarela, um paciente em coma e desacreditado repousa ao lado de outro consciente e que tem o quadro estável. A CTI está lotada. A UTI também está. Lá fora, faz 5 graus. Venta muito. Mais doentes estão chegando e não há vaga no corredor. Enfermeiros e médicos exaustos. Caminham enlouquecidamente. Tem o mesmo semblante dos doentes. Na recepção, é possível ouvir os vigias repetindo a mesma ladainha. "Só um parente por vez". Então, familiares e amigos se revezam. Contam o tempo. É só o que interessa: tempo.
Surge uma senhora, trazida pelo filho. Treme muito. Urra. Tem espasmos. "Ela tem pressão alta!". Abre-se espaço onde não existe e aparecem os enfermeiros.
Acaba o período de visita. Há uma debandada. O silêncio de quem sofre toma a avenida Francisco Trein, em frente ao hospital. Um homem o interrompe. "Ninguém quer morrer assim", diz. "Se a gente pudesse escolher...", responde uma senhora.
É tudo muito triste.