sábado, 11 de maio de 2024

Como funciona o amor na prática

Foto: Maurício Tonetto


Era 6 de maio de 2024. Eu sei da data porque, há 20 anos, nos conhecemos. Dias antes, escrevi na minha agenda: comprar flores para Marília. A ideia era fazer algo bem piegas e banal. Mandar um buquê para seu trabalho. Escrever algo. Dizer que a amava.
 
Porém, não comprei flores, nem mandei ninguém entregar nada, tampouco escrevi carta ou bilhete. Porque estávamos em casa, com nossos filhos e a cidade sofria a pior catástrofe de sua história. Foi questão de dias. Porto Alegre estava inundada. E onde não estava debaixo d’água, faltava luz ou água. E esse era o nosso caso.  

Os abrigos lotados. As estradas lotadas. O país inteiro preocupado. Pegamos as crianças, já impacientes, fizemos as malas às pressas e fomos para outro estado.   

Era madrugada, não era mais dia 6 de maio. Os pequenos dormiam no banco de trás. Não entendiam o que se passava. O carro percorria uma estrada simples, de sentido único. Quase desértica. Era tudo muito triste.   

Não tínhamos muito o que conversar. Entretanto, perguntei se ela lembrou que até bem pouco tinha sido 6 de maio. Ela disse que sim.  

Esperei que ela complementasse. Mas ela não falou mais nada. Talvez, também pensou que eu teria algo a mencionar. Mas o fato é que não tínhamos o que dizer. Não naquela hora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário